O fim da lesão, o nascimento do filho Jason, o regresso aos sub-21 e o salto quase imediato para a Seleção Nacional, e por fim a conquista da baliza do Vitória SC, com brilho . Tudo isto aconteceu num curto espaço de tempo ao guarda-redes do Vitória SC, que, já na contagem decrescente da visita ao Bessa, abriu o coração
A subida à Penha é uma espécie de metáfora em modo de repetição, noutra escala, para Celton Biai. Em duas semanas, o guarda-redes do Vitória SC sentiu-se realmente nos píncaros e tudo começou com o nascimento do filho Jason. A partir daí, de forma assombrosa, sucederam-se acontecimentos igualmente inesquecíveis. Superada uma lesão que o afastou dos treinos durante mais de um mês, regressou à Seleção Nacional sub-21 e, num estalar de dedos, seria chamado por Roberto Martínez para treinar pela principal e depois entrar na convocatória para dois jogos a valer, diante do Liechtenstein e do Luxemburgo. De regresso a Guimarães, preencheu a vaga deixada por Bruno Varela (lesionado) para impressionar, com defesas preciosas, na receção ao Paços de Ferreira. Ao lado da companheira Gabriela Santos e do bebé Jason, tendo como pano de fundo paisagens arrebatadoras de Guimarães, Biai fez a retrospetiva de um passado muito recente, ainda a cheirar a fresco. A deslocação ao Estádio do Bessa é já a seguir.
A conquista da baliza: “Sempre trabalhei para agarrar bem essa oportunidade quando ela surgisse. Achei que lidei bem com isso. Já tinha alguns jogos somados na Taça e ambicionava muito jogar também no campeonato. Agora só penso em continuar, fazendo o melhor possível para ajudar a equipa. Quero levar o Vitória o mais alto possível”.
Afastamento prolongado, por lesão, no retrovisor: “Não mexeu comigo, nem me roubou confiança. Sempre fui um jogador muito confiante. Admito que não estava à espera voltar à baliza neste timing, mas sempre me senti preparado. É por isso que lidei bem com essa responsabilidade. Chegou a minha oportunidade, só me resta cumprir, ajudando a equipa”.
O salto dos sub-21 para a Seleção Nacional: “Se me dissessem que isso poderia acontecer duas semanas antes, não acreditaria. Nem eu, nem mais ninguém. Foi uma boa experiência e espero repeti-la. Como muitos dizem, o que é realmente difícil é mantermo-nos por lá, mas isso só me dá força e motivação para trabalhar. Quero voltar lá [à Seleção Nacional] e manter-me”.
A comunicação de Rui Jorge: “Fui chamado pelo mister Rui Jorge quando nos preparávamos para almoçar. Disse-me o seguinte: ‘Celton, vais ter de ir para baixo [os sub-21 estavam concentrados na Póvoa de Varzim], para Lisboa. Vais ter de ir para a equipa A porque aconteceu lá uma coisa, não sei bem o quê’. Naquele momento, até pensei que estava a brincar porque eu tinha treinado, de facto, com a Seleção Nacional. Ainda lhe perguntei se estava a falar a sério e o mister respondeu assim: ‘sim, estou a falar a sério. Eles gostam que tu faças viagens’. Disse isso meio a brincar e, naturalmente, não caí logo em mim. Quando me apresentei na Seleção principal, explicaram-me que alguém se tinha lesionado [Diogo Costa] e que me chamaram por opção do selecionador… e naquele momento tudo me veio à cabeça. Eu tinha muita vontade de chegar à Seleção Nacional. Numa fase menos boa da minha vida, cheguei a ter muitas dúvidas, cheguei a pensar que se calhar não seria capaz de voltar a representar Portugal, mesmo em escalões inferiores. A verdade é que alcancei esse objetivo. É sinal de que o meu esforço e o meu trabalho começam a ser reconhecidos”.
A experiência de treinar entre os melhores de Portugal: “É outro nível. Custa encontrar palavras para descrever uma experiência dessas. Deu para perceber melhor aquilo em que ainda devo melhorar. Percebi também que, para estar ao nível deles, tenho de trabalhar imenso”.
Uma chamada especial: “Mal soube que tinha sido convocado para os dois jogos de Portugal, liguei ao meu irmão. Ele também não acreditou de início, depois emocionou-se e até chorou. Disse-me que estava muito contente por mim e que o nosso pai, que infelizmente já não está entre nós, também orgulhoso do meu trajeto. Disse-me para aproveitar ao máximo essa oportunidade. Também jogou futebol, mas não chegou a ser profissional. Toda a minha família tem ligação ao futebol, fui influenciado pelos meus irmãos e pelas minhas irmãs. Todos jogaram futebol”.
Pássaro Negro: “Foi um antigo treinador que me atribuiu essa alcunha por ser baixo, mas saltava muito. Aconteceu em 2008, quando estava na Geração Benfica. Ele costumava dizer que eu voava entre os postes. Foi na brincadeira que começou a chamar-me de pássaro negro. Isso começou a ser falado entre os pais dos meus companheiros e acabou mesmo por ficar”.
A referência: “Quando era mais novo, a minha referência era o Bruno Varela. Posso mesmo dizer que era o meu ídolo. Há uns anos, quando ainda estava na formação, havia poucos guarda-redes negros e ele estava num nível mais acima do Benfica, mesmo à porta da equipa A. Cheguei a ser muitas vezes apanha-bolas dele… e numa fase menos boa, quando tinha 14 ou 15 anos e andava revoltado com a vida, teve duas conversas importantes comigo, dando-me conselhos para a vida. Ajudou-me muito, fez-me abrir os olhos. Nunca vou esquecer isso. Agora já não tenho referência, aprecio antes as qualidades de vários guarda-redes”.
Os cinco golos sofridos na Luz: “O futebol tem destas coisas. O Benfica é uma grande equipa, está num bom momento… e aconteceram aqueles golos. Por um lado, faltou-se aquela estrelinha; por outro lado, eles também tiveram um pouco de sorte. Mas nunca me deixo abalar e, felizmente, não me lembro de ter sofrido cinco golos noutro jogo. Foi uma aprendizagem e também o meu regresso depois de um mês e tal de afastamento. Os grandes jogadores também se fazem dessa forma”.
A grande exibição frente ao Paços de Ferreira: “Admito que terá sido uma das minhas melhores exibições. Fui competente. Não me senti condicionado por nada, mas não quero ficar por aí. Tenho sempre algo mais para melhorar e quero continuar a evoluir, de modo a ajudar a equipa”.
Mensagem aos adeptos antes do jogo com o Boavista: “Qualquer jogador do Vitória joga para ganhar. Nós sabemos que os adeptos querem sempre sentir que nós damos tudo pelo símbolo. Podem esperar isso de nós frente ao Boavista. Queremos fazer uma segunda volta com mais pontos do que na primeira e vamos fazer tudo por isso. Tudo faremos para levar os três pontos para casa”.