Estágio no Algarve arrancou bem cedo com uma prática ainda pouco usual no futebol profissional. O equilíbrio entre a mente e o corpo dos profissionais do Vitória SC está nas mãos de Cássia Rodrigues, como complemento da preparação conduzida pelo corpo técnico liderado por Moreno Teixeira
Todos os dias, até ao próximo domingo, os atletas do Vitória Sport Clube cumprirão de sessões de ioga logo pela manhã e depois ao princípio da noite. A primeira marcou, bem cedo, o início do estágio no Algarve e foi conduzida por Cássia Rodrigues, uma especialista na matéria, que já funcionou como precioso apoio de mergulhadores e tenistas profissionais. “As sessões de ioga que ministro a esta equipa são um pouco diferentes das sessões convencionais de ioga. São adaptadas a jogadores de futebol. O objetivo é prevenir lesões, dando-lhes maior mobilidade e flexibilidade. Por outro lado, trabalho com eles a concentração e a ansiedade através da respiração, sabendo-se que também é importante dormir bem”, explicou.
Pela sua “vasta abrangência”, a ioga deve mesmo ser encarada como “um modo de vida, uma filosofia” segundo a instrutora licenciada em podologia. “Teve origem na Índia há cinco mil anos. Versa posturas, respiração, meditação, relaxamento. Envolve ainda uma vertente mais espiritual, mas não é esse o nosso foco. Fazemos treinos mais físicos e específicos para atletas de alta competição. A ioga existe para fomentar a união dos corpos: a parte emocional e mental e o corpo físico. Encaramos o corpo como um todo”, pormenorizou.
Em atividade no Vitória SC desde março, Cássia Rodrigues diz ter pela frente “um bom desafio” e acredita que ajudará a equipa a tornar-se mais forte, isto sem beliscar o trabalho desenvolvido pelo corpo técnico liderado por Moreno Teixeira. “Trabalhamos para os jogadores se apresentarem mais bem preparados para momentos de grande stresse e de alta tensão em competição. A prática do ioga dá-nos maior controlo sobre as situações. Faz com que nos conheçamos melhor: por vezes somos pessoas ansiosas e não temos essa consciência. Ajuda-nos a perceber se estamos a denotar cansaço, frustração, ansiedade. Não vamos apagar esses sintomas, mas temos de aprender a transformá-los. É um trabalho que se complementa com o trabalho desenvolvido pelo resto da equipa”, comentou.
Em Portugal, é uma prática ainda vias de desenvolvimento; já noutras latitudes, no estrangeiro, multiplicam-se os atletas que recorrem a ela. “Pelo que sei, algumas equipas portuguesas já recorrem ao ioga. Lá fora, são cada vez mais vários os atletas de alta competição que recorrem ao ioga ou ao Pilates, entre outras modalidades que trabalham o corpo como um todo, a nível energético, mental e físico, por trazerem mais valias”, testemunhou a instrutora, resumindo que a ioga conjuga essencialmente o corpo com a mente. “Não se separa a mente do corpo. Há aqui um autoconhecimento”, reforçou.
As primeiras sessões começaram em março, quando a época 2022/23 se precipitava para o fim. Entre os atletas vitorianos, primeiro estranhou-se, depois entranhou-se. “Era uma prática nova, mas depois acabaram por aderir com grande interesse. Houve grande recetividade da parte dos atletas. Estou, de resto, sempre sincronizada com a equipa técnica. Está a ser uma experiência muito positiva”, sublinhou Cássia Rodrigues.
Cada dia começa e termina com Cássia Rodrigues, mas não se verificarão repetições, incluindo nas sessões de relaxamento, como preparação para uma noite de sono proveitosa. “São utilizadas diferentes técnicas em função das respostas deles em busca da melhor solução. São sessões de meditação guiadas, algumas com música para que a mente não se disperse. É muito importante dormir bem. É a melhor oportunidade para o corpo de restaurar, é uma fase curativa para todos, sabendo-se que um atleta de alta competição se submete a esforços físicos acima da média. Um corpo cansado descansa melhor, mas nem sempre ajuda porque há quem se depare com alguma ansiedade”, ilustrou a instrutora de ioga.
A entrevista está disponível aqui: