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“Meto-lhes exigência nos treinos com o objetivo de ganhar. É essa a mística que tento passar”

Figura incontornável do Vitória SC, ligado à conquista da Taça de Portugal em 2012/13, André André abriu o coração no sexto episódio do podcast “Dezanove 22”. Por entre histórias e curiosas revelações, nada ficou por dizer

Do tempo em que se apaixonou, ainda menino, pelo futebol nos areais das Caxinas às comparações com o pai, da raça que ganhou com o tempo aos três filhos que são sócios do Vitória desde nascença, do orgulho que teve ao representar a Seleção ao desejo ardente de ganhar tudo pelo clube que representa. À imagem do que faz em campo, André André não se poupou em nenhum momento do podcast “Dezanove 22”. Primeiro em jeito de retrospetiva e, por fim, já a projetar o futuro, deixou bem claro que jamais virará as costas à sua grande paixão e ao Vitória Sport Clube. Até os três filhos, todos vitorianos de nascença, já refletem esse amor. Vale a pena, por isso, conhecer a bela história do eterno capitão, vencedor da Taça de Portugal em 2012/13 pelos Conquistadores.

O nome André André: “Ouvia por vezes a piada do André ao quadrado. Acontecia na escola. O André vem da família do meu pai. A minha mãe queria batizar-me de António e foi uma enfermeira que sugeriu André André para ser original. Ela gostou e assim ficou. O meu pai também é António e eu até gosto, mas acho que ficou bem André André. Eu gosto”.

O ídolo: “Sempre foi o meu pai, mas em criança também admirava o Maradona. O meu pai contava-me histórias dele… Mais tarde, passei a gostar do Iniesta. Eram essas as minhas referências: o meu pai, o Maradona e o Iniesta. Se já fui alvo de comparações com o Iniesta? É bom sinal”.

Às escondidas: “O meu pai só veio a Guimarães ver um jogo, isto na minha segunda época no Vitória. Foi um Vitória-Braga. Foi um bom jogo, depois nunca mais veio. E acho que não viu nenhum meu quando estava no FC Porto. Quando eu estava no Varzim, ia sempre. Em miúdo, quando ele dizia que ia assistir a um jogo, eu começava a chorar para ele não ir. É que se ele fosse, a minha mãe também ia, mais a fanfarra toda atrás… As minhas tias. É só mulheres da parte da família da minha mãe. Uma vez foram todas e era uma gritaria sempre que eu tocava na bola. Não gostava disso e proibi-os de irem lá, mas ele continuava a ir, às escondidas”.

Comparações com o pai: “Nunca senti essa pressão em miúdo porque os meus companheiros percebiam que eu tinha qualidade. Por outro lado, meti na cabeça que só daria o salto por causa da minha qualidade, nunca por causa do meu pai ter jogado no FC Porto. Isso fez-me crescer, mas também houve comparações. Disseram-se algumas coisas que não eram verdade. Mesmo assim, tudo correu bem. Estou orgulhoso da minha carreira e da carreira do meu pai. Gostava de somar o mesmo número de títulos que ele teve, mas infelizmente não está a ser possível. Vamos à procura do que temos (risos)”.

Aprendeu com histórias: “Se sou melhor do que o meu pai? As pessoas costumam dizer que tecnicamente serei melhor. A nível físico, em termos defensivos, ele seria melhor. Para a frente, segundo dizem, serei melhor, mas ele não admite isso. É tudo na brincadeira. Vi poucos jogos dele, mas aprendi alguma coisa com ele. Contava-me muitas histórias”.

Caxinas ou Caxina? “Diz-se Caxinas. Há quem diga Caxina eventualmente por ser mais fácil. Passei lá a maior parte da minha infância e depois na Póvoa de Varzim, onde estudava num colégio. Os verões eram todos passados nas Caxinas, com a bola não mão e a jogar entre as barracas da praia. Tenho boas memórias desses tempos. Jogava muito com um amigo chamado António, que um dia resolveu ir treinar no Varzim. Fui assistir e gostei daquilo. Pedi à minha mãe e, logo no dia seguinte, já lá estava a treinar, ainda com sapatilhas. Só depois é que tive as chuteiras”.

Jogador raçudo: “De início até nem era muito. Tirava o pé e tal. Depois é que comecei a ser estimulado para isso e fui melhorando a minha forma de jogar. Apanhei um grupo muito bom no Varzim. Fomos juntos das escolinhas aos juniores. Queríamos muito aquilo. Agora os jovens já só pensam em jogar no Real Madrid; nós só pensávamos em alcançar a equipa principal do Varzim. Era esse o nosso sonho. E era difícil lá chegar. Até aos juniores joguei em pelados, mas era uma grande geração. Lembro-me do Neto e do Yazalde; o Marafona era dois anos mais velho. Tínhamos muita fome de bola. Lembro-me de um companheiro que festejou um golo imitando um peixinho… num pelado. Chegávamos a jogar, em peladinhas, sem t-shirts contra os outros que estavam de colete. Tudo isso nos ajudou a crescer. Agora as coisas são mais fáceis”.

Mau perder: “Sei que uma vez o meu pai defrontou o meu tio e insultou-o de tudo. Se estivesse numa situação igual, faria o mesmo. Eu quero é ganhar. Tenho mau perder, mas deixo que os meus filhos me ganhem. Em casa, por exemplo, proibiu-se o jogo FIFA, já não há mais… para acabar com as choradeiras”.

Quem usa a braçadeira em casa: “Sou eu! (risos) Temos tarefas diferentes. Eu e minha esposa já estamos juntos há muito tempo e entendemo-nos muito bem”.

Três rapazes: “A minha mulher sempre disse que iria ter três rapazes. A família dela tem mais mulheres e, por isso, tinha esse desejo. Dois jogam no Caxinas, sendo muito competitivo o mais velho. O do meio gosta daquilo e tal. No dia em que disserem que não querem ir mais, não vão. Não vou forçá-los a nada até porque não fizeram isso comigo”.

O ADN Vitória: “Não sou muito de dizer o que é isso aos [jogadores] mais novos. Mas meto-lhes exigência nos treinos, com o objetivo de ganhar e melhorar. O Vitória tem de ser assim. Queremos sempre mais, temos de ter essa exigência de ganhar no dia a dia. É essa a mística que tento passar, não é estar a dizer aos mais novos como são os adeptos ou quantos anos tem o clube. Mas falo, nada fica entalado. Quero que olhem para mim como um jogador que quer sempre ganhar e que dá tudo pelo clube… com qualidade”.

Nelsinho e Marco Cláudio: “Alguns jogadores são muito bons e quase nunca têm oportunidades. Outros não são e chegam lá cima com uma facilidade grande. O Nelsinho e o Marco Cláudio eram craques do Varzim e enchiam-me as medidas quando eu lá estava. Eram médios-ofensivos incríveis e nunca tiveram a oportunidade de chegar ao principal escalão”.

Momentos arrepiantes no Estádio D. Afonso Henriques: “Vivi vários. Foi assim frente ao Benfica quando o clube estava a festejar os 100 anos. O ambiente no estádio era muito bom. Lembro-me também de um Vitória-Braga, para a Taça, em que perdemos, mas fomos aplaudidos de pé. Foi sinal de que demos tudo em campo e isso foi reconhecido pelos adeptos. A exigência do Vitória é a exigência de um grande. Essa exigência faz crescer os jogadores. Noutro clube, não cresceriam da mesma forma. Isso ajuda os jovens a queimarem etapas. Queremos tanto, como os adeptos, ganhar. Quem me dera ser campeão pelo Vitória, quem me dera ganhar tudo por este clube. Trabalhamos para isso, pelo menos tentamos, mas precisamos que nos ajudem, especialmente em casa. As outras equipas sentem essa força no nosso estádio. Queremos um Vitória sempre melhor. É esse o nosso foco”.

A experiência no Al-Ittihad Jeddah (Arábia Saudita): “Gostei muito. Conheci uma cultura diferente e um clube do caraças, com muitos adeptos. Vibram muito com o futebol. Apanhei essa equipa numa fase boa, ia em primeiro lugar no campeonato. Jogava num estádio com capacidade para 65 mil adeptos e estava sempre bem composto de adeptos. Estava numa cidade com praia e a família gostou. Estiveram lá comigo durante três meses: como os meus filhos não tinham escola, era praia de manhã e piscina à tarde. Estavam nas sete quintas. O mais velho, que já tem o espírito Vitória, só falava em regressar ao Vitória”.

Uma devoção especial: “Os meus três filhos são sócios do Vitória desde o dia em que nasceram e vibram muito com o clube. Assistiram comigo ao jogo com o Portimonense e o adversário fez o 1-2 no final… O mais velho disse logo usto: ´pai estou farto disto, vamos embora’. Tive de ser eu e o irmão do meio a transmitir-lhe calma. Costumam dizer que ser-se do Vitória é ser-se especial, isto quando os colegas se metem com eles. Sentem o clube a sério. Sabem as músicas todas do clube e até querem assistir a um jogo juntamente com a claque”.

Ídolo dos filhos de André André: “É o pai. Depois gostam muito do Danilo Pereira, que é meu grande amigo, e do Neto. Quando não torcem pelo Vitória, torcem pelo Sporting do ´tio´ Neto”.

Representou a Seleção Nacional e a jogar no Vitória SC: “Tinha essa esperança. A época estava a correr bem à equipa e surgiu essa oportunidade para um jogo com Cabo Verde. Foi o Rui Vitória que me entregou a convocatória e foi uma felicidade gigantesca. Nunca se esquece. Foi então possível jogar juntamente com o Neto ao serviço da seleção, que era uma coisa que nós desejávamos. Dois meninos da formação do Varzim realizaram o sonho de se reencontrarem na Seleção: frente à Sérvia e ao Luxemburgo. O Neto é como um irmão”.

O futuro depois do fim da carreira: “Gostava de continuar ligado ao futebol, de preferência ligado ao Vitória. É algo que já está entranhado em mim desde miúdo. Gosto muito de futebol. Treinador? Acho que gostaria de ensinar miúdos, mas nada está definido. É um cargo complicado”.