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Jota Silva: “Pode não parecer, mas sinto o cansaço. Tudo depende da mente”

Influente no ataque do Vitória SC, o avançado revelou-se no Podcast Dezanove 22. Das comparações com Grealish à estreia inesquecível no Estádio D. Afonso Henriques, passando pela sua posição primitiva, nada ficou por contar

Produto da formação do Sousense, Jota Silva subiu a pulso na carreira até se tornar numa das figuras incontornáveis da equipa principal do Vitória Sport Clube. Depois de uma experiência infeliz no Paços de Ferreira, ainda como júnior, regressou às origens para ganhar novo balanço, passando depois por Sp. Espinho, Leixões e Casa Pia. O gigante do Minho acenou-lhe em 2022 e foi amor à primeira vista. Convidado para o sétimo episódio do Podcast Dezanove 22, abriu o coração e, por entre interessantes revelações e histórias, deu conta de um “grupo incrível”, totalmente disponível para terminar a época em grande.   

João Pedro Ferreira Silva ou simplesmente Jota Silva: “O nome Jota vem de casa. Os meus pais é começaram a chamar-me de Jota. No futebol começaram por me chamar João ou Silva. Só depois é que o Jota começou por entrar”.

Jack Grealish: “Se ele me imitou? Não porque sou mais novo. Gosto muito dele, pelo que ser comparado com ele é fantástico. Rio-me muito com isso, não me importa nada. Mau seria se fosse comparado com um mau jogador, mas o Grealish é um bom jogador. Joga na Liga dos Campeões e ainda por cima ao serviço do Manchester City. Dizem que temos parecenças, especialmente por causa do cabelo. Serei um bocadito melhor do que ele como jogador [risos]”.

Sousense, um berço que deu balanço: “Comecei a jogar futebol nas camadas jovens do Sousense e estive lá até ao meu último ano de júnior. No meu primeiro ano de júnior sofri uma lesão grave (parti o pé) e, quando recuperei, fui encaminhado para a equipa sénior, que, nessa altura, disputava o Campeonato de Portugal. Depois mudei-me para o Paços de Ferreira e foi lá que cumpri o meu segundo ano de júnior. Foi uma época fantástica, porque é sempre diferente trabalhar num clube profissional. Aprendi muitas coisas e até cheguei a jogar pela equipa B, que, por essa altura, militava no distrital da AF Porto. De vez em quando treinava com a equipa A, mas o Paços de Ferreira desceu de divisão e o clube acabou com a equipa B na época seguinte. E não ficaram comigo, mas eu tinha muitas opções. Podia desistir do futebol, mas eu não sabia fazer mais nada e pedi para voltar ao Sousense, que já estava na distrital da AF Porto. Tinha a clara noção de que tinha de dar um passo atrás para conseguir chegar onde eu queria. E fiz uma época. Joguei sempre e tive como um treinador o Jorge Batista, que havia sido coordenador da formação do Vitória SC”.

A chamada depois da subida: “Depois dessa boa época no Sousense, fui para o Sp. Espinho para jogar no Campeonato de Portugal e começou por ser incrível, mas essa época coincidiu com a chegada da Covid e os campeonatos tiveram de parar. Foi então que apareceu o Leixões a abrir-me as portas para a II Liga. Foi um sonho tornado realidade, mas com o clube a jogar sem adeptos. Não senti essa força porque tínhamos de jogar à porta fechada. Comecei bem, depois deixei de jogar e, em janeiro, fui para o Casa Pia. Foi meia época de aprendizagem e adaptação, mas a jogar regularmente. A época seguinte foi incrível, com a subida de divisão, o que era considerado impossível por muitas pessoas. Havia o Chaves, o Rio Ave, ninguém apostava na subida do Casa Pia. E o nosso objetivo também não era isso, mas as coisas começaram a correr bem e passámos a ambicionar algo mais. Depois disparámos e até foi em casa do Leixões, na última jornada, que carimbámos a subida de divisão. Foi então que surgiu a chamada do Vitória SC”.

Jogava mais recuado: “Comecei por ser lateral-direito. Joguei algumas vezes na esquerda, mas até como lateral fazia alguns golos. Comecei por isso a avançar no terreno de jogo. Lembro-me que no meu último ano de juvenil, ainda no Sousense, fui chamado a jogar pelos juniores e o treinador colocou-me a jogar como avançado – ele jogava com dois. Era um mundo novo. Comecei a fazer golos atrás de golos e percebi que aquele era o meu lugar. Apesar disso, ainda descasquei algumas vezes como lateral na época passada, mas sou melhor como avançado… e o Vitória SC está muito bem servida de laterais”.

Inesgotável nos jogos: “As pessoas podem pensar que não, mas eu noto o cansaço. Pode é não parecer. Tudo depende da mente. Perto do fim, quando o resultado não é aquele que nós queremos, vamos até ao fim das nossas forças, dando sempre mais um bocadinho. Mas sou humano. Ferro muito a língua e aprendi a fazê-lo na distrital. Ali não se vê bom futebol, ali conta muito a vontade dos jogadores. Ganha quem é mais forte a discutir a bola. Isso acabou por moldar a minha personalidade. E a verdade é que muitos jogos do primeiro escalão não são decididos pela qualidade. Dependem muito daquilo que tu corres, dos duelos em que te envolves, de meter o pé”.

A estreia no Estádio D. Afonso Henriques, frente ao Puskás Akadémia: “Não estava habituado a jogar com mais de 300 pessoas na bancada. E nesse jogo estavam cerca de 15 mil adeptos. Foi um choque, mas sempre lutei por isso. E espero jogar em estádios ainda mais cheios. Era o meu primeiro jogo da época, vinha da II Liga e ainda por cima alinhei de início ao serviço de um clube de grande dimensão. Era a minha estreia numa prova europeia e, naturalmente, foi um momento especial. Joguei arrepiado durante os primeiros 15 minutos. Mal ouvi tocar o hino e ao olhar para aquelas pessoas todas, pensei assim: ‘onde é que eu estou?’ Felizmente, as coisas começaram a sair bem. Lembro-me por exemplo de ter sido muito aplaudido quando fiz um corte de carrinho, a travar um contra-ataque perigoso do adversário. Parecia que a bancada ia para cima de mim. Desceram todos a bancada. Foi um jogo muito especial e correu tudo bem, tanto individualmente como coletivamente”.

Os clássicos com Boavista e Braga: “O chip muda sempre nesses jogos. Não vou dizer que jogamos sempre de forma igual. Encaro todos os jogos sempre da mesma maneira, não me preparo melhor para uns e pior para outros, mas os dérbis são sempre especiais. Vive-se uma atmosfera diferente. São jogos bons e divertidos”.

Festejo com a mão na cara: “Surgiu em jeito de brincadeira quando estava em casa de um grande amigo, em Melres (Gondomar), que é a minha terra. Estávamos a assistir a um jogo do Tottenham pela televisão e aquele holandês, o Bergwijn, marcou, festejando o golo dessa forma, com a mão na cara. Eu estava no Sp. Espinho e resolveu dizer isto: ‘se marcar um golo esta semana, vou festejar como o Bergwijn. Assim foi. A partir daí, passei a festejar sempre dessa forma”.

A massagem mais bizarra: “Quando cheguei ao Sp. Espinho ainda era um miúdo e vinha da distrital. Não sabia nada daquilo. E eu gosto de ser massajado, ser mimado. O fisioterapeuta dessa altura era o Pepito, uma personagem mítica. Cheguei ao pé dele e perguntei se podia ser massajado. Respondeu que sim e eu deitei-me todo contente. Então ele pergunta-me isto: ‘puto, com produto ou sem produto?’ Pensei que estava a referir-se ao creme e respondi: ‘com produto’. Então ele cuspiu na perna! E eu perguntei: ‘então man?’ E ele: ‘puto, eu perguntei se querias com produto e tu disseste que sim’. Ainda me perguntou se queria que parasse e eu, meio envergonhado, disse-lhe para prosseguir, mas estava todo vermelho. Foi uma boa massagem, mas nunca mais lhe pedi outra. Depois comecei a marcar uns golitos e a ganhar moral. A partir daí, avisei-o para não vir mais com a conversa da cuspidela. Era um tipo muito engraçado”.

A partida ao central Amadeu: “Ainda no Sp. Espinho, havia um central chamado Amadeu e nós jogávamos em Fiães. Esse Pepito e outros pegaram e meteram Finalgon (pomada) nos boxers desse Amadeu. Ele vestiu-se, não sentiu nada e seguiu viagem no carro. No dia seguinte, perguntou: ‘o que vocês fizeram? Tive de parar três ou quatro vezes. Estava muito quente, até bufava’. Eram coisas desse tipo. Eu até tinha medo de andar por ali. Felizmente, nunca me aconteceu igual. Já no Vitória SC nunca me aconteceram coisas dessas. Também me dou bem com o Bruno Varela, o André André e o Tiago Silva [risos]”.

Mesa de teqball batizada: “Temos uma mesa de teqball no balneário e chama-se Tiago Silva e Jota Silva. Até tínhamos um copinho: quem quisesse jogar connosco, tinha de meter lá uma moedinha. E depois oferecíamos esse dinheiro a instituições de solidariedade. Eu e o Tiago Silva dávamos aulas aos outros de teqball. Uns alegavam que ganhávamos porque éramos nós a instituir as regras, outros alegavam que ganhávamos porque jogávamos mais vezes de um lado da mesma”.

Plantel unido: “O grupo é excelente. São incríveis. Quem joga e quem não joga, o ambiente é sempre muito bom. Já era assim na época passada. Estamos todos virados para o mesmo. No final da época passada, não contavam os minutos que fizeram cada um. O que contou é que o Vitória SC se qualificou para a Europa. Foi o plantel. Apesar disso, quando não jogo, entro no modo Afonso Freitas. Entramos todos, ficamos um bocado chateados, mas nunca deixamos de torcer por quem está lá dentro a jogar”.

Mensagem aos vitorianos: “Podem continuar a esperar de mim tudo aquilo que tenho sido pela entrega e trabalho. Quero evoluir, mas o empenho jamais faltará. Quanto à equipa, igual. Vamos entrar em todos os jogos com a mentalidade certa para ganhar. Trabalhamos todas as semanas para ganhar e somos os primeiros a ficar frustrados quando não conseguimos”.