Grato a “toda a gente relacionada com o Vitória” que o ajudou a adaptar-se em tempo recorde, o avançado não se dá por satisfeito com o golo e a assistência que fez nos últimos dois jogos, na condição de titular
Enquanto avança pelo Centro Histórico de Guimarães, um tesouro com a chancela da UNESCO, e encantando-se com o Largo da Oliveira e a Praça de S. Tiago, entre outras artérias da cidade, Nélson Oliveira puxa atrás a fita do tempo com satisfação para revisitar o mês e meio que leva ao serviço do Vitória Sport Clube. Em pouco tempo, conquistou muito. Entrou de fininho, matando por fim saudades do futebol português, depois de ter experimentado o futebol galês, o inglês, o grego e o turco ao longo de nove anos, e agigantou-se mal teve a oportunidade de alinhar de início num jogo. Nessa estreia, frente ao Estoril, fez questão de faturar; já na ronda seguinte do campeonato, na receção ao Famalicão, ficaria ligado ao golo de Jota Silva com uma preciosa assistência. Em declarações prestadas à comunicação do Vitória SC, o ponta de lança reconheceu estar a tirar partido de um grupo especial e garantiu que ainda só estará no começo de uma saborosa aventura, a sonhar inclusivamente com a conquista de um troféu já nesta temporada. Até lá, o teste de Chaves será para levar muito a sério.
Um bom começo: “Antes de mais, e ainda não tive a oportunidade de o fazer publicamente, gostava de agradecer a toda a gente relacionada com o Vitória, especialmente aos jogadores, que é com quem eu passo mais tempo, mas também à equipa médica, ao staff, à direção e a toda a gente pela forma como me receberam. Senti-me muito bem recebido, foi bastante fácil adaptar-me ao clube e arrisco-me a dizer que foi dos melhores grupos, senão o melhor, que eu encontrei na minha carreira. O meu rendimento é consequência de tudo isso. Senti-me muito bem desde que cheguei aqui. Naturalmente, ao início não estava a jogar tantos minutos. É normal. A equipa vinha de uma boa dinâmica. O André [Silva] estava bastante bem. Depois da saída dele, eu tive a oportunidade de jogar mais e acho que as coisas estão a correr bem. Há espaço para melhorar. A minha mentalidade faz com que eu nunca me dê por satisfeito. Acho que há sempre espaço para melhorar e sei que fisicamente ainda não estou na minha melhor forma, mas estou contente com os meus dois primeiros jogos a titular e principalmente contente por termos vencido os dois encontros. Há que seguir em frente e continuar a trabalhar”.
Regresso a Portugal: “Eu nem contei os anos, mas presumo que no meu último ano no Benfica, a última época que joguei em Portugal, não fiz golos para o campeonato. Fiz para a Taça da Liga, que ganhámos naquele ano. Também fiz um golo num jogo da Champions League. No entanto, não fiz golos no campeonato. Passaram 13 anos, sim, nem me apercebi do quão rápido o tempo passou. A verdade é que eu já estava fora de Portugal há bastante tempo e sentia saudades de jogar no meu país”.
Maturidade e experiência: “Tenho 32 anos, não sinto que parti do zero, mas sinto que as pessoas em Portugal têm uma ideia minha de quando eu tinha 20 anos, daquele jogador do Mundial sub-20. Na altura, fomos à final e eu fui um dos melhores jogadores do torneio. Era um jogador rápido que aproveitava a profundidade. Acho que sou um jogador diferente hoje em dia. Em parte, fruto da minha experiência e da minha idade. Não sou velho, mas também já não sou propriamente jovem. Agora há um acompanhamento muito maior dos campeonatos. Por exemplo, eu estive cinco anos em Inglaterra: meio ano na Premier League e o resto no Championship, que eu considero um campeonato bastante forte e bastante competitivo, talvez o sexto campeonato mais forte do mundo. Só que na altura não era transmitido em Portugal. Atualmente são transmitidos mais campeonatos, seja o Championship ou o campeonato turco. Há um acompanhamento maior e um conhecimento mais profundo de cada jogador. Quando eu jogava em França, nem o campeonato francês era transmitido em Portugal. E sinto que as pessoas aqui não me conhecem propriamente bem enquanto jogador. Sabem que eu fui aquela promessa do Benfica, mas se perguntares às pessoas como é que eu jogo, muitas pessoas ainda te vão dizer que eu sou aquele jogador rápido do Mundial sub-20. E a verdade é que já não sou o mesmo jogador, tenho outras características e outro futebol. E estar no Vitória é uma nova oportunidade para me dar um pouco a conhecer no meu país, para dar a conhecer a minha qualidade. Confio na minha qualidade e tenho confiança nas minhas capacidades”.
O grupo certo: “Como o mister disse, e bem, acho que estou no clube certo e principalmente, repito, no grupo certo. Tenho mesmo um sentimento de gratidão pela forma como fui recebido e integrado. Se calhar os meus colegas vão dizer que eu sou um puxa-saco, mas não é isso, não é assim que eu sou. Encontrei uma equipa com muita fome de sucesso. A maioria dos meus colegas são jovens que se querem afirmar, querem fazer o nome deles no futebol. Vejo muita humildade, muita ambição, muita união. Estar num grupo destes ajuda-me muito psicologicamente. Fisicamente estou a subir os meus níveis. E é isto que me traz uma alegria muito grande para ir trabalhar e treinar todos os dias. O mister Álvaro Pacheco é parte fundamental de tudo isto. Não sei se ele vai ficar chateado comigo, mas disse-me: ‘estás no clube certo e com o careca certo’. Ele também me está a ajudar. Não só ele, mas também a equipa técnica. No entanto, tenho de repetir o que já disse. Não estando a desvalorizar ninguém, é com os jogadores que eu passo mais tempo. E com o staff. E eles foram espetaculares comigo. Vou estar grato para sempre pela forma como me receberam”.
Apenas uma Taça da Liga no currículo: “O Vitória SC está nas meias-finais da Taça de Portugal e, por isso, será uma grande oportunidade para alargar o meu palmarés de títulos. É verdade que não tenho muitos, mas já disputei várias finais. Aconteceu por duas vezes na Grécia e uma vez em França. E perdi também o Mundial de sub-20. Eventualmente conquistaria mais títulos se tivesse representado o melhor clube de uma liga pouco competitiva ou então se tivesse representado um dos grandes dos principais campeonatos europeus, tipo Real Madrid ou Barcelona, mas isso não é propriamente fácil de concretizar, pelo menos nas ligas em que cheguei a jogar. A equipa que agora represento tem a possibilidade de fazer história. Estamos muito bem na Taça de Portugal, sabemos que vamos defrontar uma equipa difícil, mas era muito bonito se conseguisse enriquecer o meu palmarés já esta época. Ganhar a Taça de Portugal pelo Vitória SC seria espetacular”.
Já representou a Seleção Nacional e recomenda Jota Silva: “A Seleção Nacional tem sempre espaço para os bons jogadores e o Jota Silva é um bom jogador. Está a fazer uma grande época. Tem qualidade suficiente para representar Portugal e, por isso, está pré-convocado. Ainda hoje lhe disse isto: ‘olha, sexta-feira, depois de sair a convocatória, vais ter de pagar um almoço ao pessoal’. Eu acredito que vai ser chamado, ele merece. Há um conjunto de fatores que se conjugam a favor dele: o jogo com a Suécia será disputado em Guimarães e está a fazer uma grande época. Pelo que já demonstrou, merece. Ficaríamos todos muito contentes por ele: clube, equipa técnica, jogadores, todos”.
Terceira vitória para engatar em Chaves: “Quem representa este clube deve ter a ambição de ganhar qualquer jogo. Vamos defrontar o último classificado, mas não será fácil. De todo. O Chaves precisa de pontos, mas nós estamos num bom momento, dentro de uma dinâmica de vitórias, pelo que acreditamos que poderemos conquistar os três pontos. É para isso que estamos a trabalhar. Seria excelente somar três vitórias em três jogos seguidos”.
O mantra de serem campeões todos os dias: “O treinador incute-nos muito essa mentalidade tanto nos jogos como nos treinos. Essa mentalidade de vencedor é construída sobretudo nos treinos. Há muita competitividade entre nós no dia-a-dia, seja qual for o exercício que estamos a fazer. Ele passa-nos muito a ideia de nos superarmos, de reagirmos às adversidades e de não perdermos tempo a pensar naquilo que correu menos bem. Quer muito que passemos logo ao objetivo seguinte, com mentalidade de campeão. E os grandes campeões são isso mesmo: lidam muito rapidamente com o insucesso. Transformam rapidamente os insucessos em sucessos. São jogadores que vão sempre em busca de fazer acontecer. Nunca tive um treinador a sublinhar tanto essas ideias”.