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Dumitru Sobetchi: o engenheiro mecânico que só janta depois da meia-noite

Apesar de ser o atleta nacional mais titulado no polo aquático, Dumitru Sobetchi garante ter sentido arrepios na conquista do tetracampeonato ao serviço do Vitória SC

A completar a sua quinta época com o símbolo do Rei ao peito e ainda a saborear a recente conquista do tetracampeonato em polo aquático, Dumitru Sobetchi abordou várias questões relacionadas com a época desportiva, frisando a importância que os adeptos vitorianos tiveram nesta conquista. “Foi especial celebrar junto dos nossos adeptos, que compareceram em massa nos jogos da final e proporcionaram um espetáculo sem igual. Em nome da equipa só posso agradecer pelo ‘empurrão’ que nos deram. Foi arrepiante jogar com tal ambiente, no melhor sentido da palavra, e esperamos ter correspondido com a conquista do título”, comentou.


Para Dimi, a época desportiva está a corresponder às expectativas pessoais e coletivas. “Tirando a nossa derrota na Supertaça, esta época está a superar as expetativas, logo no início da temporada participámos em torneios internacionais competitivos que serviram de preparação para o que foi a nossa jornada europeia. Participámos em duas fases na liga dos campeões, em Tourcoing e Barcelona, bem como uma fase na Eurocup em Bucareste. Posso afirmar que foi a mais enriquecedora experiência internacional que tive, uma coisa que infelizmente no polo português é difícil de se conseguir maioritariamente por questões de saúde financeira dos clubes e apoios externos. De qualquer das formas, pessoalmente e como coletivo, o nosso principal objetivo idealizado foi o campeonato nacional e foi para ele trabalhámos ao longo da época, apesar dos altos e baixos. Alcançámos os play-offs e sempre estivemos extremamente concentrados e focados nas tarefas individuais e coletivas para podermos sair vitoriosos e fazer a festa junto dos nossos adeptos”, recordou.


Quanto à preparação da final que redundou num triunfo para o Vitória, o atleta não deixa dúvidas quanto ao desgaste físico. “Uma final à melhor de cinco jogos acaba por ser bastante longa e desgastante, portanto a semana de trabalho incidiu principalmente na recuperação física dos dois primeiros jogos, alguns ajustes táticos e uma preparação mental. Vínhamos de duas vitórias fora, que nos deixou inconscientemente com uma falsa perceção de que estaríamos mais perto do título. No entanto, essas vitórias de nada nos valiam se não vencêssemos o terceiro jogo. Sabíamos da importância de interiorizar esta mensagem para gerir as emoções”, assinalou.


Há 25 anos que não se conquistava um tetracampeonato em Portugal. Para Dumitru, este título ficará na história e espera que traga consequências positivas para a modalidade. “Conquistar o tetra num clube grande como o Vitória é um marco que ficará para sempre na história do polo e tem repercussões mediáticas um pouco por todo o país. Esperemos que resulte em consequências positivas no que toca ao número de praticantes e adeptos. A nível pessoal é igualmente um marco histórico e é tão ou mais especial que o primeiro título conquistado com o Vitória ao peito”.


O facto de ser o atleta nacional mais titulado não fez com que esta conquista perdesse valor. “Este tetracampeonato tem um sabor muito especial por ter sido o último, pela longa época que tivemos. Posso dizer que me sinto cada vez mais feliz em ganhar campeonatos e desfruto-os como se fossem os últimos, nunca foi mais um e nunca será. É uma sensação que todas as épocas procuro alcançar e, enquanto me sentir bem física e psicologicamente, continuarei a dar tudo”, garantiu,


Há cinco anos o Vitória SC apostava em força na modalidade. O nadador fez um balanço deste mesmo projeto e considera que a aposta valeu a pena. “Em retrospetiva, posso dizer que foi um projeto bastante ousado e ambicioso. No início penso que ninguém acreditou que poderíamos sair vitoriosos logo no primeiro ano: de facto, assim aconteceu e continua já pelo quarto ano consecutivo. Há cinco anos, foram colmatadas posições muito específicas que resultaram numa nova dinâmica de jogo, que certamente elevou bastante o nível da equipa, o individual e o coletivo. Atualmente, somos uma referência no polo nacional e esperamos continuar a cativar jovens para ingressar na modalidade e no Vitória, para se poder dar continuidade ao projeto e colher seus frutos. Passadas quase cinco épocas no Vitória, com um de covid pelo meio (em que as competições foram canceladas), os frutos que colhemos são quatro títulos nacionais da I Divisão, uma Taça de Portugal e duas Supertaças. Até à data somamos sete dos 10 títulos possíveis. Acaba por ser evidente que, pelo nosso sucesso, fico feliz pela aposta, tanto em termos coletivos como pessoais. Para acrescentar, além-fronteiras participámos, pelo segundo ano consecutivo, em competições europeias que nos permitiram ter a oportunidade de ter contacto com algumas das melhores equipas da europa e evoluirmos como atletas”, destacou.


Para muitos atletas, o cenário de conciliação entre a sua profissão e a carreira desportiva acaba por ser um problema. Dimi é engenheiro mecânico e avaliou esta situação a nível pessoal. “O polo aquático já faz parte da minha vida e rotina há mais de 20 anos. Tive de aprender desde cedo a conciliar a vida pessoal, académica e profissional com os treinos e os jogos. Na minha profissão, por enquanto, felizmente não tenho grandes deslocações para fora do país ou ter de ficar a trabalhar fora de horas, o que me permite conciliar com os treinos sem grande problema, que são geralmente a partir das 20h30. O único inconveniente que sinto, mas que já estou habituado, é jantar depois do treino por volta da meia-noite”, revelou.


Apesar do currículo invejável na modalidade, o atleta vitoriano considera que ainda tem alguns objetivos para a sua carreira. “Adorava conquistar um título europeu, Liga dos Campeões e Eurocup, mas posso dizer que é impossível por termos de competir com equipas 100% profissionais e com uma cultura muito mais desenvolvida. Só este ano, a nível europeu, foi introduzida a Challange Cup, o equivalente à Conference League no futebol. O objetivo desta competição é dar oportunidade a países/ligas menos fortes e menos profissionais para competir e mostrar o seu valor a nível europeu, seria um bom título. Outra competição que tenho sonho em conquistar, que neste caso significa participar, é o Campeonato da Europa pela seleção portuguesa”, apontou.