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A universidade fintada pela paixão

De visita aos sub-13 do Vitória SC, acompanhado de Jota Pereira, no âmbito da rubrica “conta-me como fizeste”, o médio Tiago Silva viajou no tempo até à época em que só pensava em jogar futebol, tanto na rua como na escola. Ao vingar no profissionalismo, perdeu-se um bom estudante

A manhã desta quinta-feira foi especial para os sub-13 do Vitória Sport Clube. Quando os jovens conquistadores se preparavam para mais um treino na Academia, Tiago Silva e Jota Pereira surgiram no relvado como astros e juntaram-se ao grupo para partilhar histórias e experiências, transmitindo ao mesmo tempo preciosos conselhos. A rubrica “conta-me como fizeste” cumpriu mais uma etapa e o pontapé de saída foi dado pelo médio Tiago Silva, que, olhos nos olhos, perante uma plateia bem atenta, alertou para a importância da escola. “Sou de Lisboa e cumpri toda a formação no Benfica. Nessa altura era complicado conciliar a escola com os treinos. Treinava sempre à noite, depois de passar todo o dia na escola. Era uma correria diária. Tinha de apanhar vários transportes e chegava sempre muito tarde a casa, mas os meus pais eram muito exigentes e não facilitavam: mesmo à meia-noite, tinha de fazer os trabalhos de casa. Sempre me incutiram grande sentido de responsabilidade e, por isso, era um bom aluno. Era possivelmente o melhor da turma”, recordou.

A culminar um percurso muito meritório no ensino secundário, o atual capitão do Vitória SC chegou mesmo a ser admitido no curso de Psicologia do Desporto, mas ficou-se por aí. Pela mesma altura já treinava com os seniores do Benfica e o profissionalismo no futebol era já algo muito concreto. Tiago Silva sempre teve a noção, porém, de que os estudos poderiam funcionar como plano B. “Isto não dá para todos, poucos têm a sorte de se tornarem profissionais de futebol de um clube da Liga Portugal. Se isto não resultar, e não dá para todos, vocês precisam de ter estudos para desempenharem outra profissão. Dediquem-se aos estudos e aproveitem bem esta passagem pelo clube. Estão na idade de se divertirem, mas respeitem muito os vossos treinadores porque eles só querem o vosso bem”, referiu, embora admitindo que a “paixão enorme” que sempre teve pelo futebol lhe deu asas para voar alto. “Quando tinha a vossa idade, estava sempre a jogar à bola na escola, com os amigos ou com os meus primos. Era na escola e na rua. Vivíamos num bairro social e passávamos o dia a jogar futebol”, relatou.

E foi por entender que a paixão pelo futebol só fazia sentido se esta andasse de braço dado com a diversão que Tiago Silva resolveu deixar os juvenis/juniores do Benfica. “A dada altura percebi que tinha perdido espaço. Fui eu a pedir para sair porque queria continuar a divertir-me no futebol. Isso é muito importante: com a vossa idade, devem divertir-se. Toda a gente me dizia que não devia trocar o Benfica pelo Belenenses, mas eu resolvi fazê-lo para me divertir. E agora vejam onde estou agora! Sou até eventualmente uma referência para alguns de vocês. Vocês devem estar onde se sentirem bem”, vincou, elegendo como momento mais difícil da sua vida a saída do pai para o estrangeiro. “Não sou de uma família rica e ele precisava de arranjar dinheiro para sustentar a família. Eu era muito jovem e custou-me bastante porque gostava muito do meu pai. Foi uma situação difícil de gerir. Dois anos depois, ele voltou e fiquei outra vez contente”, testemunhou.

Puxando a fita do tempo mais à frente, o centrocampista deu conta de um começo árduo no Vitória SC e de uma aposta ganha. “É um clube exigente e eu tentei mostrar o melhor de mim logo à chegada. E não consegui, pelo que foi uma fase complicada, mas é um clube gigantesco e fez com que acreditasse em mim outra vez. Graças a Deus, as coisas estão a correr bem agora. Apesar de ter começado a meio gás, agora sinto que o Vitória SC é o clube ideal para mim”, comentou. A terminar, contou sentir-se como peixe dentro de água sempre que joga perante mais de 20 mil adeptos. “É muito bom, é algo maravilhoso. Alguns jogadores podem sentir-se desconfortáveis com a pressão, mas outros gostam, como é o caso do Ronaldo. Ele já disse que vive disso e que a pressão funciona como combustível, tanto com aplausos como com assobios. Eu também adoro. Não gosto de jogar em estádios vazios. Quando jogo no nosso estádio cheio, tanto melhor. É maravilhoso. Espero que um dia vocês possam experienciar isso”, desejou.

Jota Pereira transmitiu ânimo

Produto da formação do Vitória SC, Jota Pereira tem como próxima meta atuar precisamente no Estádio D. Afonso Henriques ao serviço da equipa principal, depois de se ter estreado na Europa. “De certeza que isso vai acontecer. Uma lesão chegou a complicar um pouco as coisas, mas já passou e agora trabalho para voltar a atingir o topo no clube, jogando ao lado do Tiago Silva e dos outros. É o vosso sonho e o meu também”, assumiu o extremo da equipa B, que, sem grandes rodeios, transmitiu aos sub-13 a ideia de que um mau momento nunca deve ser encarado como o fim. “Comecei a jogar futebol na formação do Vitória SC também nos sub-13. E não foi fácil. Para alguns, isto parece que já não vai resultar, mas não devem desanimar. Nunca desistam. Vale a pena dar um passo atrás para depois dar dois frente. Aconteceu isso com alguns amigos. No meu caso, fui subindo de escalões e até já me estreei numa competição europeia. Acho que não é difícil chegar lá acima, difícil é mantermo-nos por lá”, vincou.

Crescer e treinar na Academia, “próximo dos grandes”, sempre funcionou como estímulo para Jota Pereira. “O desejo de querer chegar lá”, aos seniores, deu-lhe o embalo necessário e o extremo até aprecia agora com agrado que “política atual do clube” passe muito “pela aposta em jogadores com passado na formação”. “Nem todos vão conseguir, mas devem pensar que podem ser felizes noutro clube. Se derem tudo de vocês, seja no futebol, seja na escola, vão vingar”, estimou.

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